segunda-feira, 4 de julho de 2011

"INSÔNIA" por Emilson Sarmento ( In memóriam)

INSÔNIA

 +Emilson Sarmento- (In memóriam)

É noite sei, não sou cego!
Nem durmo como dorme meu filhinho.
Nem sonho como sonha minha querida esposa.
Falta-me sono.
Falta-me sono como falta o pão em inúmeras casas.
Falta-me sono como falta a água em inúmeras cidades.
Falta-me sono como falta-me inspiração para o verso.
Nessa noite, tentei compreender meu mundo!
E, nessa tentativa, várias perguntas fiz ao silêncio.
Não espero respostas, como numa carta.
Espero compreensão de mim mesmo, para mim mesmo.
Dorme um pouco solidão,
deixa-me sem ti por alguns instantes.
Quero sozinho refletir meu habitat.
Quero sozinho descobrir quem escolheu meu país,
quem selecionou meus irmãos,
quem traçou minha posição social,
quem inspirou meus pensamentos políticos,
quem me fez um poeta fracassado. 
Suicida-te de mim, poeta melancólico.
E lá, lá onde repousa a poesia morta, guarda-me 
um lugar, para que pelo menos, descanse entre elas.
Quem Deus meu, traçou o destino?
Foste Tu, Senhor?
Se sim, porque foste injusto?
Porque abundancia para uns, miséria para outros?
Se não, quem então criou o sofrer?
Quem dividiu ricos, pobres e miseráveis?
Quem criou os negros, os brancos, os diferentes?
Ah! Minha vida, não sei se vale a pena vivê-la!
Nem sei se devo adormecer e sonhar. 
O sonho me cansa,quando acordo e tudo está igual.
Porque devo só sonhar?
Só compor poemas tristes, que poucos conseguem ler?
Por que o Porque?
porque de minha presença no mundo?
Quem escolheu a mim, pra ser eu mesmo?
Quem de sã consciencia tem felicidade? 
Desculpem-me a descrença, desculpem-me a decepção.
Mas, um pouco de fiapo do tecido do mundo,
jamais conseguirá ser parte das casas dos botões.
Tampouco, será capaz de cobrir um corpo.
Era preciso que todos os fiapos se unissem, como nos tergais(tecido)
E como unir? Se estamos nos matando mutuamente?
Quem escolheu meus amigos? E os inimigos?
Quem começou essa guerra e me colocou dentro dela?
Sei que nunca terei respostas.
Como sei que um dia estarei ausente desse mundo cão,
e, quem sabe, um poeta feliz, capaz de amar seus próprios versos.
É noite sei, não sou cego.
Nem consegui compreender-me, nem ao mundo.
Parece-me parado o relógio .
demora a chegar o dia...
quem sabe o cotidiano me faça disparecer um pouco.
Talvez agarrado ao trabalho, esqueça os problemas que me afligem.
E, como todo bom poeta (espero ser um dia )
daqui pra frente, só falarei de flores e alegrias,
até que a morte me faça parar de escrever coisas bestas
ou até que eu consiga perdoar esse mundo mal construido pelos homens
que se dizem homens. (Irônico, não?)

Li, relí...quanta inquietação naquele coraçãozinho do jovem Missin...quantas coisas escondidas em seu interior, quantas perguntas sem respostas, quanta melancolia, quanta solidão! A minha alegria é que lá no céu, sua morada eterna, estes tipos de conflitos já não  existem mais. É poeta sim...poeta de Deus, da justiça, do amor, da esperança...26 anos tão pouco vividos e tantas desilusões. Hoje és poeta das estrelas...fica com Deus! (Fatinha Sarmento)

Um comentário:

  1. Essa poesia parece, a meu ver, adequada ao momento conturbado pelo qual estamos vivendo em nosso país! Esse "mundo cão" cheio de conflitos, de desesperanças, de dúvidas e incertezas, de discórdias, de decepções, de lutas que até então, parecem-me ter sido em vão. "Desculpem-me a descrença, desculpem-me a decepção.
    Mas, um pouco de fiapo do tecido do mundo,
    jamais conseguirá ser parte das casas dos botões.
    Tampouco, será capaz de cobrir um corpo.
    Era preciso que todos os fiapos se unissem, como nos tergais(tecido)parecem ter sido em vão!".

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